Friday, August 1, 2008

1 de Agosto de 2008

O dia em que duas pessoas se casam , dizem que é, o dia mais feliz de um casal. E, de facto, para Adam Cooper e Andrea Parker tinha sido. Ele era exactamente aquilo que ela procurava numa pessoa com quem esperaria passar o resto da vida. Conseguia ser o centro da sua estabilidade, o seu amante, o seu confidente, e , acima de tudo, o seu melhor amigo.
Adam sentia o mesmo por Andrea. Um amor tão grande que nem ele conseguia explicar. Casar com ela era tudo o que ele queria, ser para sempre o seu companheiro, ajuda-la nos piores momentos, ampara-la, abraça-la, envelhecer junto ao amor da sua vida.
Passavam grande parte o tempo a fazer planos para o futuro, o que normalmente levava a pequenas discussões, que acabavam sempre com um beijo. Fossem as discussões o único problema.


Conheceram-se na faculdade, Andrea estava no segundo ano de belas artes e o seu maior gosto era pintar. Adam estava no quarto ano de gestão.
Estava um dia chuvoso. Ela ia a correr para as aulas, pois já estava atrasada, o que era normal nela. Levava vestidas umas calças de ganga já gastas com o tempo, uma gabardine amarela e umas galochas. O seu cabelo castanho escuro ia amarrado com um pequeno elástico. Ela não era igual às outras raparigas universitárias, que iam para as aulas todas produzidas, cheias de maquilhagem, saltos altos, penteados complicados. Ela era simples. Uns jeans e uma t-shirt e estava pronta a sair de casa. Apenas se produzia quando ia num encontro com algum rapaz, ou quando haviam festas universitárias. Aí sim, ela ficava linda.
Adam ia a passar de carro. Ao passar por ela, não propositadamente, molhou-a com a água que estava na borda da estrada.
- Desculpa. Disse Adam
- Desculpa ? - disse ela exaltada - Já viste o que fizeste ? Eu já estou atrasada e agora ainda tenho de ir a casa trocar de roupa ! Vou perder a aula ! Tu fizeste-me perder a aula .
- Não sei que mais posso fazer. Já te pedi desculpa. A não ser que aceites a minha boleia e eu levo-te a casa e volto a trazer-te para cá.
- Mas tu tas louco ? - disse Andrea - Não vou andar no carro contigo.
- Porque ?
- Porque não te conheço de parte alguma.
- Ok, como quiseres.
Adam virou costas e entrou no carro. Andrea seguiu a resmungar.


Durante o dia, Adam só conseguia pensar em Andrea. Não tinha bem a certeza porquê. Talvez fosse por ela se ter exaltado com facilidade, ou talvez fosse por ele a ter molhado. Qualquer que fosse a razão, ele chegou à conclusão que tinha de lhe pedir desculpa e compensá-la pelo que havia feito. Mas como ? Ele não sabia nada sobre ela. Não sabia em que curso andava, onde morava, ou sequer o nome dela. Tinha apenas a imagem dela a pairar pela cabeça. Toda encharcada, cabelo apanhado e aquela gabardine amarela, um pouco ridicula.
Adam almoçava sempre com o seu melhor amigo, Zachary Levi. Zach era o típico jogador de futebol americano. Era atlético, bonito e todas as raparigas, numa altura das suas vidas já se tinham apaixonado por ele. Só pensava onde seria a próxima festa, que raparigas iriam, e se havia álcool ou não. Mas apesar disso sempre fora um bom amigo de Adam. Conheceram-se quando Adam se juntou à equipa de futebol da universidade. Desde então, nunca mais se separaram.
- Zach, hoje aconteceu-me uma coisa estranha quando estava a vir para cá.
- A tua avó telefonou-te a dizer que tinhas de voltar para trás para te dar o beijinho de boa sorte, foi ? - Disse Zach na brincadeira.
- Não ! Molhei uma rapariga por causa da chuva que estava na estrada. Quase não a via, se não fosse aquela gabardine amarela que ela trazia.
- E então ? Era gira ?
- Não, deixa-te disso. Quer dizer, não era feia de todo. Era bonitinha. Mas não é isso que importa agora. Eu molhei-a e depois fui pedir-lhe desculpa, e ela ficou furiosa comigo.
- E agora ? Não há nada que possas fazer, molhaste-a e ela agora que seque.
- Agora, quero encontrá-la e dizer-lhe mesmo que estou arrependido de a ter feito perder a aula.
- Deixa lá isso rapaz. Amanhã ela já nem se lembra.
- Não. Há qualquer coisa nela. Quero mesmo encontrá-la.
- Ok, já que queres tanto encontrá-la, eu ajudo-te.
- Obrigado.
- E o que é que estás a pensar fazer para a encontrar ?
- Não sei. Não faço a minima ideia, Zach. Eu não sei nada sobre ela. Só sei que tem uma gabardine amarela, e que à quarta-feira vem por volta das nove para cá.
- Então para a semana, tenta encontrá-la a essa hora.
- Tens razão. É o que farei.

Zach não era muito inteligente, mas no que toca a raparigas, ele sabe a matéria toda.
Passou exactamente uma semana e Adam seguiu o conselho de Zach. Durante o resto da semana só pensava em Andrea. Passavam já quinze minutos das nove e Andrea ainda não tinha passado. Adam começou a ficar impaciente. Passados uns minutos, vinha ela a correr, novamente atrasada.
- Hey ! - disse ele - Rapariga que tem uma gabardine amarela, espera!
Ela parou, voltou-se para trás e deu de caras com o rapaz que a tinha encharcado uma semana antes.
- Que queres? Disse ela.
- Falar contigo.
- Estou atrasada. Agora não posso.
E voltou a correr.
- Vá lá, espera um minuto.
Parou e disse:
- Estou atrasada. Não posso esperar. Se esperar volto a perder a aula como a semana passada. Faltar duas vezes seguidas não dá bom aspecto. E não vou voltar a perder a aula, por tua causa.
- Ok, então vamos combinar um sitio onde eu possa conversar contigo.
- Para que é que queres conversar comigo ?
- Por causa da semana passada. Preciso mesmo conversar contigo.
- Tudo bem. Não me faças perder mais tempo. Vem ter ao Joe’s Dinner à uma.
E continuou a correr.


Poucos minutos depois da uma, Adam estava no Joe’s Dinner. Joe’s ficava apenas a uns minutos do campus. Andrea não estava a espera que ele lá fosse ter, mas cumpriu a sua parte, e quando o viu a entrar saiu da beira das suas amigas e foi ter com ele.
- Afinal diz lá o que queres. Disse ela.
- Olá!!
- Olá. Agora diz o que querias dizer-me de manhã.
- Bem. Que directa.
- Diz lá o que queres falar comigo.
- Queria convidar-te para irmos tomar café.
- Porquê?
- Para te compensar pelo que fiz a semana passada.
- Não vejo como isso me vá compensar.
- É só um café. Prometo.

Reticente Andrea concordou. Esse café levou a mais cafés, que levaram a jantares e idas ao cinema. Cada vez mais ele gostava da companhia dela. Ela era diferente de todas as raparigas com quem já tinha estado. Adam, apesar de jogador de futebol, sempre foi correcto com Andrea e estava mesmo a ficar apaixonado por ela. E ela por ele, apesar de ter medo que ele apenas a quisesse levar para a cama e depois ela nunca mais sabia noticias dele.

A relação deles foi evoluindo até começarem a namorar. Passaram-se cinco anos desde o dia que se conheceram e o namoro deles estava melhor que nunca. Adam já tinha acabado a faculdade e conseguiu um bom emprego numa boa empresa. Andrea também tina terminado o curso e estava a trabalhar numa galeria de arte.
Numa noite, depois de jantarem os dois num bom restaurante Adam disse:
- Está uma linda noite não está.
- Sim, está. Porque ?
- Por nada. Acho que é uma noite perfeita e o que vou dizer tem ainda mais significado.
- Diz lá o que tens a dizer. Estás a deixar-me preocupada.
- Não fiques.
- Diz!
Adam esperou um minuto e disse:
- Em tempo de sofrimento e de grande dor abraçar-te-ei e embalar-te-ei, e tomarei o teu sofrimento e fá-lo-ei meu. Quando choras eu choro contigo, e quando sofres eu também sofro. E juntos tentaremos conter as marés de lágrimas e desespero e conseguiremos passar os buracos negros das ruas da vida.

Andrea corou. E Adam continuou:
- Queres casar comigo ?
Andrea de imediato aceitou.

Casaram-se numa igreja cheia de gente. Estavam lá todos os amigos e família de ambos. Foi, de facto o dia mais feliz da vida deles.


As complicações vieram dois anos depois. Numa tarde depois do trabalho, Adam encontrou-se com Zach, como fazia várias vezes por semana. Foram até ao bar que habitualmente frequentavam. A dada altura Adam levantou-se para ir a casa de banho e quase caia no chão. Zach apressou-se e segurou-o.
- Estás bem Adam ? Disse Zach preocupado.
- Sim. Isto já passa. É só uma tontura.
- Tens a certeza?
- Sim. Eu já estou bem. Obrigado.

Dias mais tarde Adam voltou a ter a mesma tontura forte que já tinha tido. Desta vez estava no trabalho. Quando chegou a casa não contou a Andrea, com medo de a preocupar desnecessariamente. Ele andava com muito trabalho e talvez fosse apenas um resultado de noites mal dormidas junto com o stress.
Teve episódios destes repetidamente e acabou por contar a Zach numa das noites que se encontraram:
- Zach, ando a ter daquelas tonturas que tive na outra noite.
- Tiveste mais ?
- Sim.
- Quantas mais?
- Não sei. Acho que já perdi a conta.
- Foram assim tantas?
- Algumas.
- Já foste ao médico?
- Não. Isto é só do stress.
- Acho que devias ir ao médico Adam.
- Não sei.
- Vais ao médico e não se fala mais nisso.
- Pronto, ok.
- E já falaste com a Andrea?
- Não.
- Não ? Porque ?
- Não a quero preocupar Zach.
- Acho que devias contar-lhe antes de ires ao médico.
No dia seguinte Adam marcou uma consulta no médico, mas nada disse a Andrea.
Andrea já estava a começar de notar algo diferente em Adam. Andava ligeiramente distante, mas sempre que pensava nisso, a lembrança de que ele a amava reconfortava-a.
Uma semana depois Adam foi finalmente à consulta. Contou ao médico o que se estava a passar com ele. Falou-lhe das constantes tonturas e fortes dores de cabeça que tinha. Disse-lhe também que podia ser apenas do stress e que estava preocupado em demasia. O médico mandou-o fazer uma bateria de exames, cujos resultados só chegariam três semanas depois.
Passaram-se as três semanas normalmente. Adam continuava a encontrar-se com o seu melhor amigo frequentemente e Andrea continuava preocupada com o seu marido. As dores de cabeça de Adam cada vez estavam mais fortes e demoravam ainda mais a passar.
Chegaram os resultados numa segunda-feira de manha, e Adam foi com Andrea ao médico para saber se afinal tinha ou não alguma coisa. Ao chegar ao consultório do médico, este pediu a Adam para falar a sós com ele, o que deixou Andrea ainda mais preocupada do que o que já se encontrava.
- Não! Nem pense! Ele é o meu marido. Partilhamos tudo. Estamos juntos em todos os momentos.
- Mas querida, se calhar é melhor esperares lá fora.
- Juntos na saúde e na doença, lembras-te ? Eu não vou a lado nenhum.
- Tens razão. Fica.

E assim foi. Andrea ficou no consultório com Adam. Deram as mãos e ficaram atentos a dizer o que o médico dizia.
- Não tenho boas noticias.
- O que se passa comigo doutor?
- Isto é sempre complicado de dizer. Disse o médico.
- Diga lá de uma vez, doutor. - disse Andrea - O que quer que seja.
O médico olhou para eles e por momentos nada disse. Quando finalmente largou uma bomba:
- Você tem um tumor no cérebro.
Adam e Andrea ficaram perplexos a olhar para o médico, de seguida olharam um para o outro, quando Andea perguntou:
- É operável, certo ?
- Lamento imenso, mas não. Tenho muita pena. É sempre horrível ter de dar esta noticia a alguém tão novo.
- Quanto tempo tenho de vida, doutor ?
- Não posso dizer ao certo, mas cerca de três, quatro meses.
Por esta altura Andrea já estava coberta de lágrimas e agarrada ao seu marido, que sabia que ia morrer.
Adam nada dizia. Nem podia acreditar que dentro de, aproximadamente quatro meses, iria morrer.


Ao chegar a casa Andrea foi para o quarto onde começou a chorar. Adam disse-lhe:
- Não chores meu amor. Não há nada que possamos fazer para que o meu tumor desapareça. Nada vai fazer com que eu viva mais tempo. Temos apenas estes quatro meses no máximo. Vamos aproveitar este pouco tempo que temos um para o outro. Vamos aproveitar este tempo para sermos felizes, porque depois eu não vou ter mais tempo. Este tempo vai ser só nosso e mesmo apesar de já sabermos que eu vou morrer, quero que sejas feliz enquanto eu aqui estiver. Não vale de nada estarmos aqui a chorar pois nada que a gente faça vai fazer com o que o meu tumor desapareça. Eu vou morrer. Já sabemos isso. Agora vamos ser felizes, ok?

Andrea acenou que sim com a cabeça e Adam beijou-a com carinho.

Quando Adam contou a Zach, este ficou com uma expressão de tristeza imensa na cara, ao que Adam lhe disse para não ficar triste por ele partir, que isso eram coisas do destino, mas para aproveitar agora todos os momentos que iam passar todos e guardá-los no coração.

O resto da semana foi complicada. Sempre entre choros e tristezas, as quais Adam respondia sempre da mesma maneira: Não chores meu amor, enquanto eu estiver aqui. Vamos aproveitar este tempo que temos.

À medida que o tempo ia passando, Adam ia ficando cada vez mais fraco, mas não lutava sempre para ficar bem. Um dia, de manhã antes do pequeno almoço, Andrea estava a sair do banho e pediu a Adam se não se importava de ir buscar uma toalha
- Amor, esqueci-me da toalha podes me ir buca-la?
- Tudo bem.
Adam foi buscar a toalha e antes que tivesse oportunidade para sair Andrea disse:
- Amor.
- Sim. Precisas de mais alguma coisa ?
- Preciso.
- De que?
- De um filho.
Adam ficou sério a olhar para ela e disse:
- Tas a falar a sério?
- Sim. Quero um filho teu.
- Não posso querida.
- Não podes porque?
- Não posso morrer e deixar-te aqui com o nosso filho ainda por nascer. Não posso não o ver crescer. Não posso deixar-te aqui para o criares sozinha.
- Eu quero ter alguma coisa tua antes de partires. E assim é uma parte de ti que fica aqui comigo. É o fruto do nosso amor.
- Tens a certeza?
- Tenho.

E assim concordaram que teriam um filho, mesmo que Adam não o pudesse ver. De qualquer forma ele sabia que o iria proteger lá de cima.

Andrea acabou por ficar grávida, e perguntou a Adam que nome ele queria se fosse uma menina, pois se fosse menino chamaria-se Adam, como o pai. Adam escolheu o nome Cathy caso fosse uma menina.
Na altura ainda não sabiam, mas o filho deles acabaria por se chamar Adam.

Já tinham passado os três meses e meio desde que recebera a noticia que punha data de validade à sua vida. Adam já estava fraco de mais para sair da cama. Era lá que passava o dia, com Andrea sempre a ajuda-lo no que fosse preciso.
Numa noite em que Adam se estava a sentir mesmo muito mal, pediu para chamar Zach , de modo a poder-se despedir dele. Andrea achou que seria muito cedo ainda, mas mesmo assim fez o que pediu.
Quando Zach chegou, subiu até ao quarto e Adam disse-lhe:
-Zach, tenho de te pedir uma coisa.
- Tudo o que quiseres.
- Quando eu morrer, toma conta da Andrea-
- Tomo, não te preocupes.
- Promete-me que não deixas que nada de mal lhe aconteça. Nem a ela nem ao meu filho que está para nascer.
- Prometo Adam.
- Fostes e serás sempre o melhor amigo que tive. Obrigado por tudo meu amigo.
- Não fales como se fosses morrer agora.
- É assim que tenho de falar, pois sinto que não sobrevivo nem mais um dia.
Em lágrimas Zach disse:
- Obrigado eu meu grande amigo. Nunca conheci ninguém como tu. Obrigado por todas as palavras na altura certa. Obrigado por seres como és. Obrigado por teres sido o meu amigo.

De seguida chamou Andrea, e disse-lhe:
- Amo-te, com nunca amei ninguém. És de facto o amor da minha vida. Quero que cuides do nosso filho e quero que lhe fales de mim. Quero que lhe digas que apesar de eu não poder estar presente, que o amo muito. A ti meu Amor, tenho de dizer que ainda és aquela miúda que se atrasava sempre para as aulas. Ainda és a minha rapariga da gabardine amarela. Foste a melhor coisa que me aconteceu, e não me arrependo de te ter encharcado naquela quarta-feira.
- Amo-te mais que tudo, quero que saibas isso e que leves sempre isso no teu coração para onde quer que vás. Pois tu, irás estar no meu para o resto da minha vida. Disse Andrea.

Beijaram-se e ele pôs a mão sobre a barriga dela e disse:
- Toma bem conta dela.
De seguida fechou os olhos e pensou em Andrea. Amava-a e tinha a certeza disso. Não era só bela e encantadora mas conseguia tornar-se na fonte da sua estabilidade e também na sua melhor amiga. Depois de um dia difícil no trabalho ela era a primeira pessoa a quem Adam telefonava. Andrea ficava a ouvi-lo, ria nos momentos certos e tinha uma espécie de um sexto sentido quanto aquilo que ele precisava de ouvir. Mais do que isso, admirava a maneira como ela sempre dizia o que pensava. Era mesmo o amor da sua vida. Tinha a certeza disso. Mais ninguém poderia ter o efeito nele como ela tinha.
Suspirou fundo e adormeceu tranquilo. Aquela fora a ultima vez que tanto Zach como Andrea o viram vivo.
Andrea beijou suavemente a face de Adam e disse:
- Até qualquer dia, meu amor.



Catarina Amorim